Eu gosto é da tristeza
Da sangria
A solidão me acompanha
Muito antes
De o amor me ser apresentado
Amar é fácil
Sofrer é que é difícil
Lágrimas
Combustíveis inflamáveis
Cada gota
Afasta mais as lembranças
É assim que é
Sem pausas sem pontos finais
Sem respiro
Vou viver uma vida inteira
E amores
Esses que todo mundo busca
Vão embora
Como urina acumulada
Nojo
O amor é nojento e fétido
Bom mesmo
Bom mesmo é o desgosto
Esse sim
Traz a maior de todas as inspirações
A mágoa
Mas aí ela foi se apaixonar também. E o pior: por mim. Bem que podia ser por outro. Nunca quis que ela me amasse. Agora sei que tudo o que ela fizer daqui pra frente será pra me impressionar, pra me agradar.
E é aí que a verdade acaba.
E é aí que a esperança começa.
Vou esperar dela o que ela nunca me prometeu, vou achar que tenho esse direito. Vou cobrar, vou xingar e vou desejar que ela nunca tivesse me amado. Aí, então, vou conhecê-la de verdade. E é nessa hora que vou preferir a outra. Aquela por quem eu me apaixonei. E que ainda não sabia do meu amor.
E trançar minhas pernas às tuas.
E beijar-te onde ninguém mais pode chegar.
E olhar tua cara de sono.
E, ainda dormindo, beijar-te o pescoço.
E lamber-te os ouvidos.
E, quando soar o primeiro gemido teu, morder-te as orelhas.
E, então, esquentar minhas mãos no teu corpo.
E sentir molhar-te toda.
E fazer-te sentir o que nunca sentiu.
E fazer-me sentir o que nunca senti.
E não acordar ninguém.
E nunca mais acordar.
Há quanto tempo não nos víamos?
A última vez não conta.
Não passamos nem perto.
Mas, agora, pudemos nos ver novamente.
Sem rimas, sem obrigações.
Apenas você e eu.
E conhecemos muito bem a responsável por isso.
Estávamos só esperando por ela.
Dois acomodados.
Sim, você e eu. Acomodados.
Agora ela está aí.
Sem fazer o mínimo esforço.
Aproximando-nos.
Você e eu.
Você, eu e ela.
Não fique com ciúme.
Agradeça.
Ainda vamos nos ver muitas vezes por causa dela.
