17 anos, 7 meses, 26 dias e muito amor
Cara, se tem um
conselho que eu posso te dar é: nunca tenha um cachorro. Você vai se apegar a
ele e amá-lo mais do que a muito ser humano. E isso não é bom, porque a ordem
natural é que ele morra antes de você. E, se você tiver esse azar, vai ter um
aperto tão grande no coração de ver aquela coisa, que não sabe dizer o que está
sentindo, sofrendo, que nunca mais vai querer ter outro.
Mas em 1995 eu ainda
não sabia disso. Com 12 anos você não tem muita noção das coisas. Quando a
minha irmã começou a encher o saco dos meus pais por um cachorro, ninguém foi
muito a favor. Minha avó nunca gostou da ideia de ter um bicho em casa, minha
mãe dizia que não ia cuidar, meu pai bebia muito naquela época pra dizer alguma
coisa e eu...bem, eu era uma criança, minha opinião não tinha lá muita
importância.
Mas se chamou Minnie
e não tinha mais papo. Minnie, tipo a namorada do Mickey. Depois percebi que
esse nome era muito de menininha pra falar pros meus amigos. E pouco tempo
depois percebemos que era mais Mini que Minnie. Ela não cresce mais que isso?
Não, é poodle-mini, poodle-micro, poodle-toy, sei lá. E é marronzinha assim
mesmo? Já foi mais, desbotou. E foi desbotando a cada ano.
A Minnie virou Mimi,
depois Mi e, cara, em pouco tempo já tinha ganhado todo mundo. Pequenininha,
com um latido gostoso que só os donos suportam, ela passou boa parte da vida curtindo
um sossego deitada na barriga da minha avó e seguindo, muito antes de Twitteres
e Instagrams, a minha mãe cegamente. Dava até inveja: pra onde a minha mãe
fosse, a bicha ia atrás. Uma sombrinha.
Esse papo de que
vida de cão é vida ruim é furado. Ela tinha uma vida de pop star, cheia de
vantagens e regalias. Mas nem por isso era estrelinha. Quando ainda era forte
fazia questão de dar bom dia pra cada um que acordasse. Ao jeito dela, claro:
subindo nas nossas pernas, espreguiçando-se e esperando que a gente fizesse
carinho. Isso quando ela não ia acordar todo mundo na cama.
É, cara, cachorro a
gente se apega. Comemora aniversário, dá Feliz Natal, Feliz Páscoa, conversa
achando que ele tá entendendo tudo, fica mais feliz que ele depois de um belo
banho&tosa e sente uma falta do cão quando ele vai embora. É membro da
família, considerado nas quebradas.
Nos últimos 3 anos,
a Minnie viveu mais de amor que de água e comida. Ficou cega, teve osteoporose,
AVC e, por fim, um tumorzinho na barriga, que aos poucos foi deixando de ser
inho e se tornou ão. Mal se agüentava em pé, ia trombando por toda casa. Mas
ia. Quando os problemas começaram, meu tio virou num almoço de domingo e disse:
é, ela tá se despedindo. Meu tio se despediu 9 meses antes dela. Coisas da
vida. E depois dizem que guerreiro é BBB e jogador de futebol.
É, cara, essa aí
lutou pela vida. Mais do que isso, lutou pra ficar o maior tempo possível ao
lado da minha mãe, a razão de vida dela. Até o último segundo elas estiveram
juntas. Ela sempre deitada, numa boa. E minha mãe fazendo o que uma boa mãe
sabe fazer: carregar a filha nos braços até ela dormir.