Discussão aliterativa, alienatória e aleatória
Já passava da meia-noite, quando o mais magro chamou a atenção de todos da mesa:
- Porém, parece pior prescrever palavras principiadas primordialmente por "p".
O mais baixo, que estava de frente para o mais magro, ao receber as salivas deste em sua testa, exclamou:
- Adoro aliterações assim, acordadas ao acaso.
Indignado, o mais magro insistiu:
- Podemos produzir parágrafos perfeitos permitidos pelo português.
Lembro-me ter sido nesse momento que o casado poetizou, em tom de deboche:
- Como conseguir casos com casos cambaleando, cantando, correndo...com conjuntura comum casual.
O mais baixo sorriu, riu, gargalhou. E depois de soluçar, afirmou, quase que confessando:
- Mulher melhor, man, me maltrata muito!
O boteco do Alítero já baixava suas portas, quando o carioca das Minas Gerais resolveu acordar de uma bebedeira profunda que já durava dezoito garrafas:
- Mas mesmo matando, muitos mantêm manias muito mais massantes e malas!
- Este elemento está eliminado. – sussurrou o dono da loja de colchões da esquina. - Esperamos evitar expressões erradas e excessivas.
Nesse momento, o mais baixo virou a mesa, literalmente. Garrafas de vidro voaram pelos ares, desenhando um movimento perfeito de malabarismo, mas sem malabarista. Com ira nos olhos e na voz, ele gritou:
- Trapaceiro? Ta tirando, truta?
- Só sou sincero, saco, seu sapeca! – brincou o casado, fazendo um gesto leve e mole com as mãos, revelando sua verdadeira sexualidade.
Com a balbúrdia imperando no bar do Alítero, as vozes criando um ruído único e as garrafas quebrando nas quinas das mesas, o mais magro preferiu se retirar à francesa. Perguntado sobre o por quê de sua atitude, ele concluiu:
- Sim, senti superficialidade sobre sua situação.