sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Discussão aliterativa, alienatória e aleatória

Já passava da meia-noite, quando o mais magro chamou a atenção de todos da mesa:

- Porém, parece pior prescrever palavras principiadas primordialmente por "p".

O mais baixo, que estava de frente para o mais magro, ao receber as salivas deste em sua testa, exclamou:

- Adoro aliterações assim, acordadas ao acaso.

Indignado, o mais magro insistiu:

- Podemos produzir parágrafos perfeitos permitidos pelo português.

Lembro-me ter sido nesse momento que o casado poetizou, em tom de deboche:

- Como conseguir casos com casos cambaleando, cantando, correndo...com conjuntura comum casual.

O mais baixo sorriu, riu, gargalhou. E depois de soluçar, afirmou, quase que confessando:

- Mulher melhor, man, me maltrata muito!

O boteco do Alítero já baixava suas portas, quando o carioca das Minas Gerais resolveu acordar de uma bebedeira profunda que já durava dezoito garrafas:

- Mas mesmo matando, muitos mantêm manias muito mais massantes e malas!

- Este elemento está eliminado. – sussurrou o dono da loja de colchões da esquina. - Esperamos evitar expressões erradas e excessivas.

Nesse momento, o mais baixo virou a mesa, literalmente. Garrafas de vidro voaram pelos ares, desenhando um movimento perfeito de malabarismo, mas sem malabarista. Com ira nos olhos e na voz, ele gritou:

- Trapaceiro? Ta tirando, truta?

- Só sou sincero, saco, seu sapeca! – brincou o casado, fazendo um gesto leve e mole com as mãos, revelando sua verdadeira sexualidade.

Com a balbúrdia imperando no bar do Alítero, as vozes criando um ruído único e as garrafas quebrando nas quinas das mesas, o mais magro preferiu se retirar à francesa. Perguntado sobre o por quê de sua atitude, ele concluiu:

- Sim, senti superficialidade sobre sua situação.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Angústia

Ando angustiado

Com medo de que a vida leve você de mim

As escolhas são cruéis

Justas para quem escolhe

Injustas para quem não é escolhido.


Tenho vontade de gritar

Gritar o seu nome

Gritar pela minha mãe

Pelo meu passado

Que ele volte.


Você nem sabe o que ando passando

Pensando

Penso besteira o dia inteiro

Sofrendo por antecipação.


Tenho vontade de chorar

De te abraçar e não te deixar ir

Mas sei que isso não posso fazer

Então fala comigo

Diz-me o que sou pra você


Porque pra mim

Você é a minha vida.



quarta-feira, 30 de julho de 2008

Confidencial

- Qual é o plano dessa vez?

- O A ou o B?

- Os dois, oras.

- Não, preciso saber qual você quer saber.

- Ok. Qual o plano A?

- Não, o plano A você não pode saber.

- Então, por que me mandou escolher?

- Porque esperava que você falasse o B.

- Cara, você tá me irritando. Diga-me o plano B, então.

- Mas o plano B você só saberá se o plano A falhar.

- Bem, então, já que não participarei do plano A, não tenho mais o que fazer aqui. Adeus!

- Calma, espera! Você tem que ficar de prontidão para o plano B, caso o plano A dê errado.

- E como vou saber se o plano A deu errado, se eu nem sei qual é o plano A?

- O plano A é o de sempre. É o padrão.

- Mas nós nunca bolamos um plano antes. Qual é o padrão?

- O plano A é o padrão.

- Mas qual é o plano A, afinal?

- Você não pode saber...ainda.

- E quando saberei?

- Na hora certa.

- E quando será a hora certa?

- A hora que tiver que ser, oras.

- E por que não posso saber?

- Por isso.

- Por isso o quê?

- Porque você faz perguntas demais.

- E você dá respostas de menos.

- Hum...

- “Hum...” o quê?

- Nada.

- Não disse? Você é monossilábico!

- Aguarde aqui. Já volto.

- Aonde você vai?

- Pôr em prática o plano A.

- E como vou saber se ele deu certo ou não?

- Você saberá.

- Quando?

- Na hora certa.

- E quando será a hora certa?

- A hora que tiver que ser, oras.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ação da Gruda em Mim no Fórum VOCÊ S.A. de Liderança

A Gruda em Mim (Que o Boi Não te Lambe), agência de Comunicação Mão-Dupla na qual trabalho atualmente, realizou, hoje, uma ação no Fórum Você S/A de Liderança.

A ação consistia em divulgar a própria Gruda em Mim. Conseguimos a oportunidade de estar naqueles materiais que as pessoas recebem em palestras (sacolas, pastas, bloco de notas, caneta etc.) e mais um espaço no hall social do evento, que aconteceu no WTC.

O que pensamos?

Partindo do conceito e missão da agência que é FAZER PONTES, colocamos
portas-crachá com ventosas nas pastas dos participantes, dentro havia instruções para que grudassem seus cartões no nosso painel. Criamos assim, uma rede de networking interativa.

Resultado: painel preenchido e networking rolando solto no evento, que pôde ser conferido ao vivo pelo site da Gruda, através do Yahoo! Live.

Abaixo, você confere fotos da ação.








terça-feira, 17 de junho de 2008

Pensamento do Dias

"Acho que todos devemos levar nossos carros ao Sertão pra ver se acabamos com a seca no Nordeste."

segunda-feira, 9 de junho de 2008

BISCOITOTECA – Livro é doce e é mole, sim. (2ª Leitura)

Corações Sujos

Em seu artigo especial para a Revista Época, Luiz Schwarcz, editor e fundador da editora Companhia das Letras, escreveu que “os escritores da assim chamada não-ficção narrativa conquistaram posições nos últimos tempos, ao unir a transmissão do conhecimento histórico, a pesquisa científica ou a investigação jornalística à sedução literária.”

Isso traduz, em palavras, exatamente o que senti e pensei ao ler Corações Sujos, de Fernando Moraes. O livro conta a história da colônia japonesa no Brasil (mais especificamente em São Paulo e interior) e a reação de sua grande maioria ao comunicado do, então imperador do Japão, Hiroíto, sobre a derrota nipônica na Segunda Grande Guerra.

Os kachigumi, como eram chamados os vitoristas, não acreditaram que o tão poderoso Exército Imperial Japonês, que nunca havia perdido uma guerra sequer, tivesse se rendido aos Estados Unidos. Para eles, era tudo propaganda americana. Esse fundamentalismo deu origem à Shindô Remmei, uma organização, nem tão secreta assim, que tinha por objetivo desfazer a tal “propaganda ianque” e matar todos os makegumi, imigrantes japoneses mais esclarecidos que tinham consciência da derrota japonesa. Esses derrotistas foram chamados de corações sujos.

Aqueles meses pós-guerra mundial entraram para a história não só de São Paulo, mas do Brasil. E mais, para a história diplomática entre Brasil e Japão. O mais curioso, é que nunca me foi ensinado nada sobre o assunto na escola ou no cursinho. Parece até que se quer apagar os atritos entre brasileiros e japoneses, originados nessa época.

Corações Sujos me foi indicado por duas pessoas, na mesma semana. Eu estava envolvido com uma campanha que tratava, justamente, sobre a comemoração dos cem anos da imigração japonesa no Brasil e buscava referências. Após ler, percebi que nem todo o século foi motivo de comemoração. Entendi, também, por que tantos japoneses não fizeram questão nenhuma de aprender o nosso idioma e por que muitos brasileiros ainda têm preconceitos contra os nipônicos.

Corações Sujos faz parte do grupo de livros que “souberam unir o útil – a busca de formação cultural necessária em sociedades cada vez mais competitivas – ao agradável – o prazer da leitura.”, como soube, mais uma vez, descrever Schwarcz.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa - V

Amigo, hoje a minha inspiração se ligou em você


É a primeira vez em vida que sento na cadeira e começo a escrever. Todas as outras vezes, sentava, olhava para o teto, para as paredes, rodava a caneta ou o lápis, ligava a TV, desligava a TV, andava pra lá e pra cá até achar a inspiração para começar. Na maioria das vezes a dificuldade nem estava no tema, mas em começar o texto.

Hoje, agora, já no segundo parágrafo, sei muito bem o motivo de tal facilidade anormal: meus amigos da faculdade.

É claro que esse sentimento nostálgico foi motivado por algo. Nada de muito importante para alguns, mas muito sagrado para mim. Esta noite, tomei uma cerveja num bar próximo a minha ex-faculdade com três, apenas três, de minhas dezenas de amigos que fiz ali pouquíssimos anos atrás. No meio do bate-papo e da calabresa apareceu uma quarta amiga, que pouco ficou, mas matou-nos de sua saudade.

Após a bebedeira, um dos amigos e eu entramos no campus e demos uma volta rápida. Fora algumas mudanças, o lugar parecia estar exatamente como da última vez que pisamos lá como universitários. E foi nessa hora que a Dona Nostalgia bateu à porta.

Lembramos de detalhes, como comer um salgado no Benjamin Abraão, pegar a escada de emergência para ir à aula de Multimeios e sentar no chão para desenhar alguma planta do jardim em nossas folhas A2 e A3 para depois guardarmos em nossas pastas de mesmo tamanho.

Na volta para casa, já sozinho, lembrei do que minha sábia mãe sempre dizia: “Quando você crescer, vai querer voltar aos tempos de escola, sem preocupações, sem contas para pagar.”. Dito e feito. Sinto muita falta dos tempos de escola, mas sinto mais ainda falta dos tempos de faculdade. Éramos verdadeiras crianças que, literalmente, brincavam pelos corredores. Crianças que ainda não se preocupavam tanto com a carreira e o mercado. Crianças que, hoje, graças a essas criancices, são grandes profissionais.

Quem não me conhece e lê, pensa que sou velho, que faz tempo que meus Anos Dourados aconteceram. A verdade é que não faz nem dois anos que eles acabaram. Mas a saudade que sinto daquela época é tão grande que me dá uma vontade ainda maior de chorar.

Meu curso? Publicidade e Propaganda.

Quero chorar o seu choro

Quero sorrir seu sorriso

Valeu por você existir, amigo!

(Fundo de Quintal)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Pensamentos do Dias

“Estava à toa na vida,

O meu amor me chamou.

Dizendo: vamo acordar,

A sua hora acabou.”

***

“Hoje, acordei mais cedo para fazer o que não me lembro. Como é duro ter 78 anos.”

***

“Pimenta no cú dos outros é refresco. Vou querer o cú da Scarlett Johansson com duas pedras de gelo, por favor.”

***

“Semana passada apertei os seios de uma donzela siliconada. Na última vez que apertei um seio, o silicone era um composto ativo usado na fabricação de bombas caseiras contra o exército ariano.”

***

“Muita calma nessa hora. Só matei meu irmão gêmeo pra evitar acusações de dupla personalidade.”


terça-feira, 13 de maio de 2008

Teoria sobre o caso Isabella

Alexandre Nardoni, pai de Isabella, era travesti aos finais de semana no Rio de Janeiro e, há tempos, extorquia Ronaldo Fenômeno. Revoltado, o gorducho invadiu o apartamento dos Nardoni e jogou a menina do sexto andar. Antes de colidir contra o solo, a menina, muito antenada, passou a mão no GPS do padre Adelir de Carli, que trazia balões para seu aniversário, que se aproximava.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

BISCOITOTECA - Livro é doce e é mole, sim. (1ª Leitura)

1808

Resolvi começar a postar sobre os livros que leio. Vai que esse blog vire uma biblioteca virtual? Agora, sempre que terminar de ler algum livro, vou comentar por aqui. Seja ele bom ou ruim, para muitos ou para poucos.

O primeiro da série é, na verdade, o último.




1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e Brasil.

Laurentino Gomes, respeitado jornalista brasileiro, que recentemente deixou a Editora Abril para se dedicar exclusivamente à sua carreira de escritor, narra, com detalhes, a fuga – isso mesmo, “fuga”. E não “vinda” ou “chegada”. – do, então Príncipe Regente, João, o simpático e bonachão Rei Dom João VI.

No livro, que, ouço dizer, está sendo vendido como água, é possível conhecer toda covardia deste nosso Patrício Real. O cara não só fugiu da raia napoleônica, como levou só parte da corte, deixando a maioria do povo português cara a cara com os cavalos franceses.

É claro que D. João também trouxe desenvolvimento para o Brasil e, principalmente, para a capital, Rio de Janeiro. Mas também trouxe muita confusão, doenças e corrupção. Preferia que nossa história não tivesse sido exatamente assim.

1808 também mostra muitas obras de arte históricas que retratam momentos e ainda mais detalhes da época. Tudo em suportes de ótima qualidade, tanto imagens, como texto e capa.

Ponto negativo (para mim): durante toda leitura, o autor utilizou aquela regra de numerar referências bibliográficas. Em alguns casos era pertinente, pois na bibliografia, últimas páginas do livro, havia informações adicionais interessantes, mas na grande maioria dos casos, perdi muito tempo indo até o fim da obra para dar de cara, apenas, com a simples referência “livro-autor-editora”. Nada que atrapalhe a leitura, mas poderia ter acabado antes, se não fosse por isso.

Da série Bolachas de primeira da Casa - IV

Digo-te com quem andas e te direi quem és

Vê dois uísques com energéticos. Um pra mim e um pra essa obra prima aqui do lado.

E aí, tudo bem? Vem sempre aqui? Ah, que pergunta, é claro que vem. Todas as quintas e sábados. Calma, não precisa ter medo. Eu não mordo. Quer dizer, a não ser que você queira. Sua comunidade no Orkut. Ela que dedura todos os seus gostos. Aliás, também não gosto de música eletrônica. Não, muito longe. Já é tarde. Vamos naquele barzinho com MPB ao vivo que tem perto da sua casa. Aquele que você indicou no seu blog. Vamos no seu. Do jeito que você odeia 1.0 vai pular da janela na primeira subida.

Oi! Como tá? Claro que eu lembro. Também adorei te conhecer. É, aquela noite foi inesquecível mesmo. Valeu por ter me incluído no seu Delicious. Aliás, não te falei, mas durante nossa experiência eu ia twitando tudo. É, era eu. Pronto, tá adicionada. Tava pensando aqui. Tá a fim de repetir a dose essa noite? Jura? Ótimo. Também já tô com saudade. Agora entendi porque aquela música era a primeira da sua playlist no Last.Fm. Combinado, a gente se encontra lá às 21h. Relaxa, habilita o seu bluetooth quando chegar que você me encontra.

Também te amo.

De nada. Sabia que você ia gostar. Conheço seu Google Reader como a palma da minha mão. Jura que você criou uma definição pra mim na Wikipedia? Tagueou e tudo? Isso que é amor. Tenho outra surpresa pra você. Subi outro vídeo no Youtube agora, dá uma olhada. Em primeira mão, hein. Pode, claro. Manda pra quem você quiser. Aproveita e adiciona aos seus favoritos.

Olha, há um tempo que eu quero te dizer isso. Eu não tô gostando nem um pouco dos seus comentários ao meu respeito. Nesse último post o assunto nem era sobre mim, mas você fez questão de escancarar pro mundo os problemas da nossa relação. Não, me escuta você. Como assim? Como assim eu nunca te escuto? Você mudou? Mudou como? Quando? Pra onde? Manda a URL. Achei que já tivesse superado essa história do Flickr. Aquelas pessoas nas fotos são…são amigas, é isso. Só tenho olhos pra você.

O quê?! Nunca pensei que pudesse me trair. Ainda mais com esse aí, que nem Facebook tem. E quem disse que fico no seu pé, que te sufoco? Ah, quer saber? Que vá! Sejam felizes! Divórcio? Ótimo. Onde é que eu assino?

Só não pense que vai se livrar de mim assim tão fácil. No seu aniversário ainda te mando um e-mail marketing.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa - III

Dança das Cadeiras

Quem costuma acompanhar o badalado, disputado, idolatrado, salve e salve mercado publicitário, sabe o quanto rodam os profissionais: é Mídia que deixa agência e vai pra veículo; Diretor de Criação que deixa o cargo pra ganhar mais como redator em outro lugar; Atendimento que resolve abrir a própria agência e leva o cliente junto etc.

O ciclo de vida de um publicitário pode ser comparado ao ciclo de vida de um produto.

Introdução: contrato ou carteira de trabalho assinados, primeiro dia de trabalho sempre igual e começa a fase de adaptação. Máquina nova (ou não), mudança de rotina, novas caras e ainda sem aquela liberdade pra fazer cocô no banheiro.

Crescimento: é aquela fase de aprendizado. Por mais experiente que o profissional possa ser, sempre vai aprender coisas novas, já que mudam os clientes e os colegas de trabalho.

Maturidade: é quando a grande maioria se muda, faz as trouxas, vaza, busca novos desafios, ou seja, vai trabalhar em outro lugar. É quando não há mais o que aprender, quando o criativo já renovou o portifólio, quando o Atendimento se enche do cliente, quando o Mídia se cansa de comprar e passa a querer vender espaços. É aqui também que irão aparecer propostas de outros lugares.

O ciclo de vida de um publicitário em uma agência não chega a ser um ciclo, pois dificilmente se fecha. Antes que chegue o Declínio, é melhor mudar mesmo. A rotina é estressante e bem diferente de outras empresas, como bancos, em que fazer uma carreira por anos pode ser o objetivo do estagiário.

Penso que a carreira de um publicitário pode, também, ser comparada à de um jogador de futebol, pois, um grande craque deve pendurar as chuteiras no seu auge, ou seja, em sua fase de Maturidade. Além de ter bom senso para saber a hora de mudar de clube. E, caso apareça uma proposta melhor, que vá. Afinal, jogadores são profissionais, assim como os dançarinos da Publicidade.

terça-feira, 25 de março de 2008

Da boca em forma de coração

Livre das rimas, das obrigações.
Sentei-me para um propósito.
Livre das estruturas literárias, das referências.
Parei por um instante.


Vergonha.
Sentimento vergonhoso que domina os tolos.
Tolos que não se envergonham de ter vergonha.
Vergonha de dizer o que sentem.


Não sou mais tolo.
Não sou mais o mesmo.
Aquele mesmo de antes.
Que não falava,
Mudo.
Que não sentia,
Gelado.
Que não amava.


Aquele olhar clareado.
Aquele falar decidido.
Aquela pele cândida.
Meu reino por essa Flor.


Margarida.


Ensina-me mais uma,
Que eu anoto mais essa.
Conta-me seu dia,
Que a noite é por minha conta.
Dá-me seu amor,
Que te faço sorrir.


Panaca por ti.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa - II

Mais importante que o BBB só o Corinthians

Cheguei à conclusão que assim pensa meu pai. Na noite da última quarta-feira, assistíamos ao jogo do Todo Poderoso contra o Fortaleza, que, por sinal, vencemos de virada. Durante a partida, o Cleber Machado fazia aqueles famosos foguetinhos referentes ao Big Brother Brasil versão 8, dizendo que no intervalo do jogo faria uma intervenção na casa para falar com os participantes. E qual não foi minha surpresa ao ver meu pai se irritando com o narrador:

“Porra, Cleber, narra o jogo!”

Sim. Assim como todos os pais-viúvas-de-Pelé, o meu conversa com o narrador e os jogadores durante a transmissão. O fato de o canal de comunicação ser a tela da TV não impede que o velho tenha liberdade suficiente para xingar, gritar e saudar os velhos tempos do bom futebol. E, assim como todas as famílias do Brasil, a minha também se reúne na sala para assistir ao que é hoje o programa mais importante da televisão nacional. Infelizmente.

Juro por Deus que não gosto e não assisto ao BBB. Quem me conhece, sabe que é verdade. Mas isso não significa que eu não saiba o que se passa na única casa mais famosa que a do Galo. É o tipo de...coisa...que não é preciso acompanhar dia-a-dia para saber o que está acontecendo. Todos os portais, jornais e muitos blogs têm o trabalho de levar essa notícia até você. Não tem como fugir. Se correr, o BBB pega. Se ficar, o BBB come.

Se a audiência bate recorde ou não, não importa. O fato é que o Big Brother, hoje, faz parte, literalmente, da vida de todo brasileiro. Está nas conversas em ônibus, nos bate-papos de botecos e até nas orações em velórios:

- O falecido foi um vencedor em vida, um guerreiro.
- Assim como o Rafinha.
- Verdade. Que Deus abençoe este bom homem.
- O falecido?
- Não, o Rafinha. To torcendo por ele.

Mas o que acho, realmente, legal e inteligente nesse programa são as provas. Ainda mais quando marcas estão envolvidas. Normalmente, os patrocinadores oficiais – desta edição 2008 são Fiat, NovaSchin e Ponto Frio -, são quem promovem as chamadas Provas do Líder, por exemplo. O que não impede de outras marcas aparecerem por lá com suas ações de merchandising. Afinal, pagando bem, que mal tem?

E devem pagar muito bem mesmo. Nem fiz questão de saber quanto está uma açãozinha dessas, mas, como criativo, adoraria ser responsável pela criação de um desses advergames. Pois, a certeza de ver a idéia acontecer e, de quebra, ainda ser vista e comentada por milhões de pessoas, talvez me fizesse discordar de meu pai e passar a torcer pra Natália.

***

Nota: entre os dias 10 e 16 de março ocorreu a Semana do Consumidor. Só para não passar em branco: exija seus direitos. Mas jamais fale que você é publicitário. :)

terça-feira, 18 de março de 2008

Como ser furtado e enganado em uma semana

Simples. Compre um terno bem bonito e caro. Aquele que você sabe que só usará em casamentos, bailes de formaturas e festas à fantasia. Pague à vista, sob medida. Afinal, é o seu terno. Depois de comprar, pense que este será o seu terno por muitos e muitos anos, que você pagou caro porque ele vai durar muito tempo.

Pronto, agora você tem um terno. Use-o. Que tal ir a um baile de formatura? Nada melhor que ir a um evento em que todos, eu disse TODOS, estão vestidos assim como você. Um evento em que não é permitido entrar sem traje social completo. No caso, um terno.

Se você não sabe, um terno é o conjunto, ou combinação, de calça e paletó. Ao traje social completo, acrescente camisa social manga longa, gravata, um par de sapatos e um par de meias sociais.

Agora, para ser furtado é só dar tempo ao tempo. Tome uma cerveja, coma um canapé, dance uma valsa, converse, volte para mesa lá pelas cinco da matina e SHAZAN! VOCÊ FOI FURTADO! Sim, seu paletó sumiu. Não está mais na cadeira onde você o deixou, não está embaixo da mesa, tampouco na chapelaria. E se você tinha algo dentro dele, como uma gravata, relaxe, goze, esqueça e peça um uísque.

Mas esse não seria meu terno por muitos e muitos anos? Não ia durar muito tempo?
Sim, mas o Ladrão de Paletós não é obrigado a saber disso, poxa vida! Você devia ter deixado um bilhete grampeado no bolso: “Senhor Ladrão de Paletós, este é o meu terno de muitos e muitos anos. Favor não roubar.”.

O que fazer agora?
Comprar outro, oras.

Pense numa loja. Uma loja boa, de nome, que você conheça. Uma loja de GARBO e elegância. Entre na loja, experimente uns modelos, coisa rápida, pois ainda esta semana você tem um casamento. Na verdade, o casório é no dia seguinte e você ainda tem que escolher o novo terno e fazer aquelas arrumações, como a barra da calça.

A vendedora (sem preconceitos, mas mulher vendendo numa loja para homens não pode dar certo. É a mesma coisa que um homem vendendo numa loja de calcinhas.), muito simpática, promete:

- Arrumamos seu terno para amanhã às 16:00h.
- Arrumam mesmo? – você diz – O casamento é às 19:30h e preciso disso pronto para amanhã.

Você ainda ressalva:

- Se não der, não tem problema. Eu me viro de outro jeito.
- Nós, normalmente, arrumamos para três dias, mas vou priorizar o seu, devido a essa urgência.

Maravilha! A compra está feita. Ou melhor, a venda. Você sabe que a vendedora só se comprometeu a arrumar seu novo terno para o dia seguinte para poder fazer a venda e ganhar sua mísera comissão (que mais tarde se tornaria comichão para você). Mas tudo bem: ela finge que te engana e você, ingênuo e apressado, finge que acredita.

No dia seguinte você está lá, pontualmente às 16:00h, como combinado. Você fez a sua parte como cliente, comprou e foi buscar.

- Ainda vai demorar um pouquinho pro alfaiate terminar. Você espera?
- Quanto tempo? – você pergunta, imaginando que ela, a vendedora do dia anterior, diga 15 ou 20 minutos.
- 50 minutos.

Você foi enganado! Seu terno ficou pronto às 17:00h. O que é uma hora de atraso? Tudo bem, afinal você não tinha pressa, não tinha um casamento do outro lado da cidade e não tinha caído na lábia da vendedora de GARBO e elegância.

Conclusão: ou você tem cara de otário ou é muito azarado. Ainda bem que tem sempre alguém mais burro pra te alertar.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa

A partir de hoje, começarei a postar aqui também meus artigos da Casa do Galo. A idéia é me forçar a acessar o meu próprio blog, pelo menos, uma vez por semana.


Apenas um bate-papo criativo

- E se for a imagem de um cara pendurado num penhasco só pela roupa, mas ouvindo um som? Aí assina “Porque a vida é agora.”.

- A assinatura é até legal, mas você fica lá pendurado pra gente produzir a foto?

- Não entendi a piada.

- Humpf! Redatores...

- É que você não imaginou a cena como eu imaginei.

- Ta, e se a gente usar uns elementos gráficos? Assim...uma direção de arte bacanuda, com umas ilustras e tal?

- Sei, mas e o texto, falaria o quê?

- Não, sem texto. Só a imagem já diz tudo. Sacou que nem precisa de texto?

- Não, desenha pra mim?

- Cara, e aquela estagiária nova do Atendimento, hein! Sensacional!

- Já está na Top Five.

- Da agência?

- Não, da minha vida.

- Calma, cara, não é pra tanto também. Ela é gostosinha e tudo mais, mas pera lá.

- Fala isso pro meu coração, então.

- Xiii, ta apaixonado mesmo, é?

- A paixão é assim: entra sem pedir licença, vai embora sem dizer tchau.

- Isso dá anúncio, hein. Guarda essa frase.

- Aliás, por falar em anúncio, você viu aquele que aquela agência da Índia fez?

- O que mostra um indiano comendo uma vaca e o título “A gente nunca sabe o dia de amanhã.” ?

- Esse mesmo. Muito bom, né?

- Mais ou menos.

- Ah, claro! Vai dizer que faria melhor?

- Ah, dá pra viajar mais nesse conceito, vai!

- Ah é? Dá um exemplo.

- Sei lá. Por exemplo, só a imagem da fatura do cartão de crédito da Dona Marisa, mulher do Lula e “A gente nunca sabe o dia de amanhã.”

- Além de sem graça, é regionalista.

- Qual o problema em ser regionalista?

- Regionalistas não têm visão de futuro. Só pensam em exaltar a própria terra. Em outras palavras, só olham pro próprio umbigo.

- Não fala do meu umbigo porque é uma das poucas coisas bonitas em mim, hein!

- Seu umbigo é bonito, cara. Parece aquele buraco do metrô de São Paulo, mas é bonito.

- Já que você tocou nesse assunto, se eu te dissesse que vou fazer uma plástica, o que você diria?

- Depende.

- Diria “depende”?

- Não, eqüino, depende da plástica. O que você tá pensando?

- Promete que não vai rir?

- Prometo.

- Quero deixar minha boca mais carnuda.

- Há, há, há!

- Você prometeu que não ia rir.

- Há, há, há! Pô, cara, e eu lá ia imaginar que você quer ficar igual a Aline Moraes?

- Não zoua! É que você não manja nada de mulheres. Elas gostam de homens com bocas carnudas. Pode acreditar.

- Mulher gosta de homem, cara. E ponto. Mas faz a plástica, eu te apoio. Depois te arranjo um emprego de sósia do Steven Tyler, há, há, há!

- Isso!

- Isso o quê? Quer mesmo ser sósia do Steven Tyler? Eu tava brincando.

- Não, animal! Banda. E se a gente usasse uma banda famosa pra associar com a marca? Podíamos mostrar o antes e o depois de um show. Um anúncio seqüencial, manja?

- Boa! E o texto podia dizer algo como “A diferença está nas pequenas coisas.”. Cara, você é um gênio!

- Bem, não entendi muito o título, mas com uma boa direção de arte dá pra salvar. Ninguém olha o texto mesmo.

- Só não te respondo porque chegou a pizza.

- A de quatro queijos é minha.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Um dia continua (e continuou)

Boné do Chicago Bulls oficial oito linhas com estampa do Perna Longa enterrando uma bola, calça big azul, tênis Redley verde sem cadarço e camisetão branco do Frajola. Paulo Roberto conhecia muito bem as peças de roupa antigas do seu irmão mais velho, o Arnaldo Antunha, principalmente, o camisetão do Frajola, que herdara do Arnaldo e que lhe servia de camisola nas boas noites de sono.

“Mas quem será essa pessoa?” pensou o Paulinho, que não mais ouvia o som que saia da boca do Júlio da Costa. “Não me lembro de ter mandado mamãe dar essas roupas.”.

Enquanto o Paulo Roberto se interessava mais por saber como aquela pessoa havia conseguido tão peculiares trajes, não percebia que todos ao redor já não continham a empolgação ao verem a Perna Longa de Rugas, como estava sendo chamada a menininha com cara de velha, descabelar uma das meninas da roda ao lado com um beijo de língua na orelha esquerda.

***

A Dona Abadia desceu da lotação e perguntou ao primeiro segurança do shopping onde acontecia o grande encontro de todas as segundas-feiras dos fundos do shopping:

- Nos fundos do shopping, senhora. – respondeu o homem.

Como não suportava os camelôs que rodeavam o lugar, a Dona Abadia deu a volta por dentro e aproveitou para dar uma passadinha na loja para senhoras de meia idade. Mas não entendeu por que a vendedora insistia em chamá-la de seu moleque e indicar a loja de esportes ao lado. Chegando aos fundos, notou uma aglomeração incomum. “Deve ser aqui.” pensou.

De fato, era. Centenas de jovens formando dezenas de rodas. Ao primeiro olhar geral, a Dona Abadia se espantou a tal ponto que suas pernas tremeram e chegou, quase, a desmaiar tamanha pouca vergonha que seus olhos concluíam àquelas cenas. Garotos encurralando garotos em muretas, meninas enfiando a mão em outras, por trás, por cima da calça...“Que horror! Não é possível que o Paulinho participe disso.”. Cansada de procurar, a Dona Abadia resolveu sentar um pouco numa ponta de banco que ainda estava desocupada. O resto do pequeno concreto de cimento era ocupado por duas meninas que sentavam uma no colo da outra. A que estava sentada por cima cutucou a Dona Abadia que, até então, nem se dava conta da dupla:

- Curti esse seu boné.

- Falou comigo? – perguntou a Abadinda.

- Pena que você cubra esse seu rosto tão lindo com ele.

- Você...você acha que eu tenho o rosto lindo? De verdade? – balbuciou.

- Eu te daria um beijo agora, sabia? Agora mesmo.

- Mas essa aí não é sua namorada? – perguntou a Dona Abadia, apontando com um bico a garota que sentava por baixo, e já com um sentimento que nunca sentira antes. “Será? Não, não pode ser.”, pensou.

- Ela não é minha namorada.

- Mas vocês se beijaram agora mesmo. – afirmou a mãe de Paulinho, já quase se inclinando inconscientemente para a garota, que se levantou, pegou na mão da Abadinda, puxou-a para cima e roubou-lhe um beijo.

A Dona Abadia ficou paralisada, olhando fixamente para os olhos da menina. Sentiu algo que não sentia há muito tempo. Sentiu-se desejada. E para uma mulher como ela, que havia passado os últimos anos da vida se dedicando apenas ao filho e ao trabalho, pouco importava quem a havia desejado. Com a mão direita buscou a cabeça da desconhecida, com a esquerda, prendeu-a pela cintura. E beijou-a.

E continuou.
Leia o texto um.
Leia o texto dois.