sábado, 27 de abril de 2013

17 anos, 7 meses, 26 dias e muito amor

Cara, se tem um conselho que eu posso te dar é: nunca tenha um cachorro. Você vai se apegar a ele e amá-lo mais do que a muito ser humano. E isso não é bom, porque a ordem natural é que ele morra antes de você. E, se você tiver esse azar, vai ter um aperto tão grande no coração de ver aquela coisa, que não sabe dizer o que está sentindo, sofrendo, que nunca mais vai querer ter outro.

Mas em 1995 eu ainda não sabia disso. Com 12 anos você não tem muita noção das coisas. Quando a minha irmã começou a encher o saco dos meus pais por um cachorro, ninguém foi muito a favor. Minha avó nunca gostou da ideia de ter um bicho em casa, minha mãe dizia que não ia cuidar, meu pai bebia muito naquela época pra dizer alguma coisa e eu...bem, eu era uma criança, minha opinião não tinha lá muita importância.

Mas se chamou Minnie e não tinha mais papo. Minnie, tipo a namorada do Mickey. Depois percebi que esse nome era muito de menininha pra falar pros meus amigos. E pouco tempo depois percebemos que era mais Mini que Minnie. Ela não cresce mais que isso? Não, é poodle-mini, poodle-micro, poodle-toy, sei lá. E é marronzinha assim mesmo? Já foi mais, desbotou. E foi desbotando a cada ano.

A Minnie virou Mimi, depois Mi e, cara, em pouco tempo já tinha ganhado todo mundo. Pequenininha, com um latido gostoso que só os donos suportam, ela passou boa parte da vida curtindo um sossego deitada na barriga da minha avó e seguindo, muito antes de Twitteres e Instagrams, a minha mãe cegamente. Dava até inveja: pra onde a minha mãe fosse, a bicha ia atrás. Uma sombrinha.

Esse papo de que vida de cão é vida ruim é furado. Ela tinha uma vida de pop star, cheia de vantagens e regalias. Mas nem por isso era estrelinha. Quando ainda era forte fazia questão de dar bom dia pra cada um que acordasse. Ao jeito dela, claro: subindo nas nossas pernas, espreguiçando-se e esperando que a gente fizesse carinho. Isso quando ela não ia acordar todo mundo na cama.

É, cara, cachorro a gente se apega. Comemora aniversário, dá Feliz Natal, Feliz Páscoa, conversa achando que ele tá entendendo tudo, fica mais feliz que ele depois de um belo banho&tosa e sente uma falta do cão quando ele vai embora. É membro da família, considerado nas quebradas.

Nos últimos 3 anos, a Minnie viveu mais de amor que de água e comida. Ficou cega, teve osteoporose, AVC e, por fim, um tumorzinho na barriga, que aos poucos foi deixando de ser inho e se tornou ão. Mal se agüentava em pé, ia trombando por toda casa. Mas ia. Quando os problemas começaram, meu tio virou num almoço de domingo e disse: é, ela tá se despedindo. Meu tio se despediu 9 meses antes dela. Coisas da vida. E depois dizem que guerreiro é BBB e jogador de futebol.

É, cara, essa aí lutou pela vida. Mais do que isso, lutou pra ficar o maior tempo possível ao lado da minha mãe, a razão de vida dela. Até o último segundo elas estiveram juntas. Ela sempre deitada, numa boa. E minha mãe fazendo o que uma boa mãe sabe fazer: carregar a filha nos braços até ela dormir.