terça-feira, 25 de março de 2008

Da boca em forma de coração

Livre das rimas, das obrigações.
Sentei-me para um propósito.
Livre das estruturas literárias, das referências.
Parei por um instante.


Vergonha.
Sentimento vergonhoso que domina os tolos.
Tolos que não se envergonham de ter vergonha.
Vergonha de dizer o que sentem.


Não sou mais tolo.
Não sou mais o mesmo.
Aquele mesmo de antes.
Que não falava,
Mudo.
Que não sentia,
Gelado.
Que não amava.


Aquele olhar clareado.
Aquele falar decidido.
Aquela pele cândida.
Meu reino por essa Flor.


Margarida.


Ensina-me mais uma,
Que eu anoto mais essa.
Conta-me seu dia,
Que a noite é por minha conta.
Dá-me seu amor,
Que te faço sorrir.


Panaca por ti.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa - II

Mais importante que o BBB só o Corinthians

Cheguei à conclusão que assim pensa meu pai. Na noite da última quarta-feira, assistíamos ao jogo do Todo Poderoso contra o Fortaleza, que, por sinal, vencemos de virada. Durante a partida, o Cleber Machado fazia aqueles famosos foguetinhos referentes ao Big Brother Brasil versão 8, dizendo que no intervalo do jogo faria uma intervenção na casa para falar com os participantes. E qual não foi minha surpresa ao ver meu pai se irritando com o narrador:

“Porra, Cleber, narra o jogo!”

Sim. Assim como todos os pais-viúvas-de-Pelé, o meu conversa com o narrador e os jogadores durante a transmissão. O fato de o canal de comunicação ser a tela da TV não impede que o velho tenha liberdade suficiente para xingar, gritar e saudar os velhos tempos do bom futebol. E, assim como todas as famílias do Brasil, a minha também se reúne na sala para assistir ao que é hoje o programa mais importante da televisão nacional. Infelizmente.

Juro por Deus que não gosto e não assisto ao BBB. Quem me conhece, sabe que é verdade. Mas isso não significa que eu não saiba o que se passa na única casa mais famosa que a do Galo. É o tipo de...coisa...que não é preciso acompanhar dia-a-dia para saber o que está acontecendo. Todos os portais, jornais e muitos blogs têm o trabalho de levar essa notícia até você. Não tem como fugir. Se correr, o BBB pega. Se ficar, o BBB come.

Se a audiência bate recorde ou não, não importa. O fato é que o Big Brother, hoje, faz parte, literalmente, da vida de todo brasileiro. Está nas conversas em ônibus, nos bate-papos de botecos e até nas orações em velórios:

- O falecido foi um vencedor em vida, um guerreiro.
- Assim como o Rafinha.
- Verdade. Que Deus abençoe este bom homem.
- O falecido?
- Não, o Rafinha. To torcendo por ele.

Mas o que acho, realmente, legal e inteligente nesse programa são as provas. Ainda mais quando marcas estão envolvidas. Normalmente, os patrocinadores oficiais – desta edição 2008 são Fiat, NovaSchin e Ponto Frio -, são quem promovem as chamadas Provas do Líder, por exemplo. O que não impede de outras marcas aparecerem por lá com suas ações de merchandising. Afinal, pagando bem, que mal tem?

E devem pagar muito bem mesmo. Nem fiz questão de saber quanto está uma açãozinha dessas, mas, como criativo, adoraria ser responsável pela criação de um desses advergames. Pois, a certeza de ver a idéia acontecer e, de quebra, ainda ser vista e comentada por milhões de pessoas, talvez me fizesse discordar de meu pai e passar a torcer pra Natália.

***

Nota: entre os dias 10 e 16 de março ocorreu a Semana do Consumidor. Só para não passar em branco: exija seus direitos. Mas jamais fale que você é publicitário. :)

terça-feira, 18 de março de 2008

Como ser furtado e enganado em uma semana

Simples. Compre um terno bem bonito e caro. Aquele que você sabe que só usará em casamentos, bailes de formaturas e festas à fantasia. Pague à vista, sob medida. Afinal, é o seu terno. Depois de comprar, pense que este será o seu terno por muitos e muitos anos, que você pagou caro porque ele vai durar muito tempo.

Pronto, agora você tem um terno. Use-o. Que tal ir a um baile de formatura? Nada melhor que ir a um evento em que todos, eu disse TODOS, estão vestidos assim como você. Um evento em que não é permitido entrar sem traje social completo. No caso, um terno.

Se você não sabe, um terno é o conjunto, ou combinação, de calça e paletó. Ao traje social completo, acrescente camisa social manga longa, gravata, um par de sapatos e um par de meias sociais.

Agora, para ser furtado é só dar tempo ao tempo. Tome uma cerveja, coma um canapé, dance uma valsa, converse, volte para mesa lá pelas cinco da matina e SHAZAN! VOCÊ FOI FURTADO! Sim, seu paletó sumiu. Não está mais na cadeira onde você o deixou, não está embaixo da mesa, tampouco na chapelaria. E se você tinha algo dentro dele, como uma gravata, relaxe, goze, esqueça e peça um uísque.

Mas esse não seria meu terno por muitos e muitos anos? Não ia durar muito tempo?
Sim, mas o Ladrão de Paletós não é obrigado a saber disso, poxa vida! Você devia ter deixado um bilhete grampeado no bolso: “Senhor Ladrão de Paletós, este é o meu terno de muitos e muitos anos. Favor não roubar.”.

O que fazer agora?
Comprar outro, oras.

Pense numa loja. Uma loja boa, de nome, que você conheça. Uma loja de GARBO e elegância. Entre na loja, experimente uns modelos, coisa rápida, pois ainda esta semana você tem um casamento. Na verdade, o casório é no dia seguinte e você ainda tem que escolher o novo terno e fazer aquelas arrumações, como a barra da calça.

A vendedora (sem preconceitos, mas mulher vendendo numa loja para homens não pode dar certo. É a mesma coisa que um homem vendendo numa loja de calcinhas.), muito simpática, promete:

- Arrumamos seu terno para amanhã às 16:00h.
- Arrumam mesmo? – você diz – O casamento é às 19:30h e preciso disso pronto para amanhã.

Você ainda ressalva:

- Se não der, não tem problema. Eu me viro de outro jeito.
- Nós, normalmente, arrumamos para três dias, mas vou priorizar o seu, devido a essa urgência.

Maravilha! A compra está feita. Ou melhor, a venda. Você sabe que a vendedora só se comprometeu a arrumar seu novo terno para o dia seguinte para poder fazer a venda e ganhar sua mísera comissão (que mais tarde se tornaria comichão para você). Mas tudo bem: ela finge que te engana e você, ingênuo e apressado, finge que acredita.

No dia seguinte você está lá, pontualmente às 16:00h, como combinado. Você fez a sua parte como cliente, comprou e foi buscar.

- Ainda vai demorar um pouquinho pro alfaiate terminar. Você espera?
- Quanto tempo? – você pergunta, imaginando que ela, a vendedora do dia anterior, diga 15 ou 20 minutos.
- 50 minutos.

Você foi enganado! Seu terno ficou pronto às 17:00h. O que é uma hora de atraso? Tudo bem, afinal você não tinha pressa, não tinha um casamento do outro lado da cidade e não tinha caído na lábia da vendedora de GARBO e elegância.

Conclusão: ou você tem cara de otário ou é muito azarado. Ainda bem que tem sempre alguém mais burro pra te alertar.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Da série Bolachas de primeira da Casa

A partir de hoje, começarei a postar aqui também meus artigos da Casa do Galo. A idéia é me forçar a acessar o meu próprio blog, pelo menos, uma vez por semana.


Apenas um bate-papo criativo

- E se for a imagem de um cara pendurado num penhasco só pela roupa, mas ouvindo um som? Aí assina “Porque a vida é agora.”.

- A assinatura é até legal, mas você fica lá pendurado pra gente produzir a foto?

- Não entendi a piada.

- Humpf! Redatores...

- É que você não imaginou a cena como eu imaginei.

- Ta, e se a gente usar uns elementos gráficos? Assim...uma direção de arte bacanuda, com umas ilustras e tal?

- Sei, mas e o texto, falaria o quê?

- Não, sem texto. Só a imagem já diz tudo. Sacou que nem precisa de texto?

- Não, desenha pra mim?

- Cara, e aquela estagiária nova do Atendimento, hein! Sensacional!

- Já está na Top Five.

- Da agência?

- Não, da minha vida.

- Calma, cara, não é pra tanto também. Ela é gostosinha e tudo mais, mas pera lá.

- Fala isso pro meu coração, então.

- Xiii, ta apaixonado mesmo, é?

- A paixão é assim: entra sem pedir licença, vai embora sem dizer tchau.

- Isso dá anúncio, hein. Guarda essa frase.

- Aliás, por falar em anúncio, você viu aquele que aquela agência da Índia fez?

- O que mostra um indiano comendo uma vaca e o título “A gente nunca sabe o dia de amanhã.” ?

- Esse mesmo. Muito bom, né?

- Mais ou menos.

- Ah, claro! Vai dizer que faria melhor?

- Ah, dá pra viajar mais nesse conceito, vai!

- Ah é? Dá um exemplo.

- Sei lá. Por exemplo, só a imagem da fatura do cartão de crédito da Dona Marisa, mulher do Lula e “A gente nunca sabe o dia de amanhã.”

- Além de sem graça, é regionalista.

- Qual o problema em ser regionalista?

- Regionalistas não têm visão de futuro. Só pensam em exaltar a própria terra. Em outras palavras, só olham pro próprio umbigo.

- Não fala do meu umbigo porque é uma das poucas coisas bonitas em mim, hein!

- Seu umbigo é bonito, cara. Parece aquele buraco do metrô de São Paulo, mas é bonito.

- Já que você tocou nesse assunto, se eu te dissesse que vou fazer uma plástica, o que você diria?

- Depende.

- Diria “depende”?

- Não, eqüino, depende da plástica. O que você tá pensando?

- Promete que não vai rir?

- Prometo.

- Quero deixar minha boca mais carnuda.

- Há, há, há!

- Você prometeu que não ia rir.

- Há, há, há! Pô, cara, e eu lá ia imaginar que você quer ficar igual a Aline Moraes?

- Não zoua! É que você não manja nada de mulheres. Elas gostam de homens com bocas carnudas. Pode acreditar.

- Mulher gosta de homem, cara. E ponto. Mas faz a plástica, eu te apoio. Depois te arranjo um emprego de sósia do Steven Tyler, há, há, há!

- Isso!

- Isso o quê? Quer mesmo ser sósia do Steven Tyler? Eu tava brincando.

- Não, animal! Banda. E se a gente usasse uma banda famosa pra associar com a marca? Podíamos mostrar o antes e o depois de um show. Um anúncio seqüencial, manja?

- Boa! E o texto podia dizer algo como “A diferença está nas pequenas coisas.”. Cara, você é um gênio!

- Bem, não entendi muito o título, mas com uma boa direção de arte dá pra salvar. Ninguém olha o texto mesmo.

- Só não te respondo porque chegou a pizza.

- A de quatro queijos é minha.