segunda-feira, 9 de junho de 2008

BISCOITOTECA – Livro é doce e é mole, sim. (2ª Leitura)

Corações Sujos

Em seu artigo especial para a Revista Época, Luiz Schwarcz, editor e fundador da editora Companhia das Letras, escreveu que “os escritores da assim chamada não-ficção narrativa conquistaram posições nos últimos tempos, ao unir a transmissão do conhecimento histórico, a pesquisa científica ou a investigação jornalística à sedução literária.”

Isso traduz, em palavras, exatamente o que senti e pensei ao ler Corações Sujos, de Fernando Moraes. O livro conta a história da colônia japonesa no Brasil (mais especificamente em São Paulo e interior) e a reação de sua grande maioria ao comunicado do, então imperador do Japão, Hiroíto, sobre a derrota nipônica na Segunda Grande Guerra.

Os kachigumi, como eram chamados os vitoristas, não acreditaram que o tão poderoso Exército Imperial Japonês, que nunca havia perdido uma guerra sequer, tivesse se rendido aos Estados Unidos. Para eles, era tudo propaganda americana. Esse fundamentalismo deu origem à Shindô Remmei, uma organização, nem tão secreta assim, que tinha por objetivo desfazer a tal “propaganda ianque” e matar todos os makegumi, imigrantes japoneses mais esclarecidos que tinham consciência da derrota japonesa. Esses derrotistas foram chamados de corações sujos.

Aqueles meses pós-guerra mundial entraram para a história não só de São Paulo, mas do Brasil. E mais, para a história diplomática entre Brasil e Japão. O mais curioso, é que nunca me foi ensinado nada sobre o assunto na escola ou no cursinho. Parece até que se quer apagar os atritos entre brasileiros e japoneses, originados nessa época.

Corações Sujos me foi indicado por duas pessoas, na mesma semana. Eu estava envolvido com uma campanha que tratava, justamente, sobre a comemoração dos cem anos da imigração japonesa no Brasil e buscava referências. Após ler, percebi que nem todo o século foi motivo de comemoração. Entendi, também, por que tantos japoneses não fizeram questão nenhuma de aprender o nosso idioma e por que muitos brasileiros ainda têm preconceitos contra os nipônicos.

Corações Sujos faz parte do grupo de livros que “souberam unir o útil – a busca de formação cultural necessária em sociedades cada vez mais competitivas – ao agradável – o prazer da leitura.”, como soube, mais uma vez, descrever Schwarcz.

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