Um dia continua (a continuação)
A Dona Abadia – ou Abadinda, como a costumavam chamar – era esperta. Já tinha enganado muito os pais também, dizendo que ia aos shows da Legião Urbana, quando, na verdade, se encontrava com pré-adolescentes do fã-clube dos Menudos para trocar fotos do Rob Rosa.
Ela sabia que o Paulinho, como gostava de chamar o filho único de pai desconhecido, não dizia a verdade. Por isso, naquela segunda-feira, resolveu segui-lo. Mas como não queria ser reconhecida, fez o que qualquer mãe em seu lugar faria: vestiu-se com roupas da moda adolescente. O problema era que essa moda não era da adolescência contemporânea. Era de uma geração anterior. Mas quem iria perceber? O fato de treinar gírias, em frente ao espelho, como “da hora, hein, meu!” e “ah, eu to maluco!” não significava que ela estava desatualizada.
Quinze minutos após a saída do filho, a Dona Abadia tratou de pegar a lotação Vila Carrão/Tatuapé e ir ao encontro do dia que jamais esqueceria.
***
O Paulo Roberto estava muito à vontade naquela noite. Com o ouvido direito ouvia My Chemical Romance no MP3 player da DricaxBirdx, com o esquerdo era todo ouvidos para o Júlio da Costa, menino novo no shopping, alto, cabelos pretos de gel e moicano, que filosofava sobre sentimentos recíprocos não declarados. O garoto era bom de papo, mas o Paulo Roberto não conseguia entender por que ele tinha mania de mover a orelha toda vez que alguém pronunciava seu nome.
Quando o Júlio começou a declamar poemas de Arnaldo Jabour, que recebera via e-mail de um contato distante, a atenção do Paulo Roberto já não era total. Em meio a tantos casais iguais, um roubou os olhares do garoto.
Um dia continua e, talvez, acabe.
Leia o texto um.
Leia o texto três.
4 comentários:
Feliz ano novo, Alê!
Um beijo enorme,
Luciana
Oi Alê,
Belo blog o seu e a Casa do Galo sempre com muita qualidade ! Parabéns !
e ai vai atualizar isso aki q dia??? 30 de fevereiro???
É por ai. Estou focado no outro projeto.
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